sexta-feira, 10 de abril de 2015

Mommy (2014)

Mommy
Diretor: Xavier Dolan




Diane Després (Anne Dorval) é surpreendida com a notícia de que seu filho, Steve (Antoine-Olivier Pilon), foi expulso do reformatório onde vive por ter incendiado a cafeteria local e, com isso, provocado queimaduras de terceiro grau em um garoto. Os dois voltam a morar juntos, mas Diane enfrenta dificuldades devido à hiperatividade de Steve, que muitas vezes o torna agressivo. Os dois apenas conseguem encontrar um certo equilíbrio quando a vizinha Kyla (Suzanne Clément) entra na vida de ambos. (AdoroCinema)

Xavier Dolan é um jovem diretor bem conhecido por filmes ousados, que não se preocupa em "mostrar demais", em chocar o espectador, mas sempre com um cuidado bem especial em transmitir sua mensagem de uma maneira bem clara. Suas obras se assemelham a fábulas do mundo moderno que retratam vidas cotidianas e exploram ao máximo seus protagonistas. E Mommy não podia ser diferente.

O elenco principal é formado por um trio excepcionalmente bom, os atores estão todos extremamente competentes. Três personagens bem contrastantes que se completam de uma maneira bem inteligente. Temos uma mãe solteira, um filho problemático e uma vizinha tímida que vão se descobrindo aos poucos até criarem uma dependência quase visceral entre si. É muito interessante analisar os personagens e perceber como cada fato tem um significado diferente para cada um. O espectador se sente amigo dos protagonistas logo de cara (coisa que eu não via desde Boyhood), o que me causou diversas reações.

Mommy tem uma particularidade técnica bem curiosa: uma grande maioria do filme é rodada na câmera em 1:1, ou seja, a câmera do filme é "quadrada", como se estivéssemos assistindo um vídeo no Instagram, por exemplo. O efeito dá uma sensação de claustrofobia que pode incomodar no início, mas logo o incomodo se esvai. Mas, como já foi dito, não é o filme todo que é rodado assim. Quando a câmera finalmente é aberta nós somos presenteados com uma cena que estará guardada na cabeça da maioria dos espectadores por um bom tempo. Uma cena aonde tudo faz sentido, aonde se entende o uso da câmera em 1:1, onde todo o "peso" do filme acaba. É uma daquelas cenas que você simplesmente não quer que acabe. Confesso que abri um sorriso de orelha a orelha. Foi realmente uma experiência cinematográfica fantástica.

A trilha sonora é bem interessante, contendo algumas músicas bem conhecidas como o clássico Wonderwall, do Oasis (que eu duvido que depois deste filme você irá encarar da mesma maneira) e Born to Die, da Lana del Rey, que encerra o filme. Tudo é muito bem calculado e toca no momento exato. Mas acho que o principal de se destacar em relação a trilha sonora é que não foram usados apenas alguns segundos da música, e sim a música completa, na maioria dos casos (e convenhamos, não é legal quando o filme corta na melhor parte da música...) quanto à trilha instrumental, conhecida como score, também é de exímia qualidade. Sempre bem leve e bem aplicada.

Mommy é uma obra repleta de detalhes, com alguns aspectos técnicos bem particulares que trata sobre uma gama enorme de assuntos, mas a crítica quase que subliminar dele em relação ao conceito de família foi o ponto alto do filme, que quebra paradigmas sociais de uma forma bem fluida e racional de uma forma pouco convencional e bem inteligente. Um prato cheio até para os cinéfilos mais exigentes!

-We still love each other, right?
-That's what we're best at, buddy.

domingo, 8 de março de 2015

Magia ao Luar (2014)

Magic in the Moonlight
Diretor: Woody Allen



Stanley (Colin Firth), um falso mágico com talento para desmascarar charlatões, é contratado para acabar com a suposta farsa de Sophie (Emma Stone), simpática jovem que afirma ser médium. Inicialmente cético, ele aos poucos começa a duvidar de suas certezas e se vê cada vez mais encantado pela moça. (AdoroCinema)
 
E (ano passado) chegou às telonas Magia ao Luar, mais um filme do clássico diretor Woody Allen, bastante conhecido por filmes bem humanos, belas fotografias, predominância de cenários externos, ótimas interpretações e várias sequencias de diálogos. E aqui não é nada diferente.

O "grosso" da história aqui é bem comum e bem clichê: um casal que não tem muita coisa em comum, mas deixam as circunstâncias de lado para entender um ao outro. Mas que com o toque Woody Allen, essa premissa já bem reutilizada se transformou em uma obra delicada e cheia de detalhes. Uma coisa muito importante e bem curiosa é o papel da magia no filme, que não é de impressionar o espectador. A magia é utilizada para apresentar dois lados de uma mesma moeda, opiniões bem conflitantes que resultam em vários diálogos bem interessantes, o que deu um tom mais realista pra obra.

Colin Firth e Emma Stone interpretam Stanley e Sophie, um casal bem antagônico. Ele é bem cético, com opiniões bem fechadas de tudo e de todos, e não tem nenhuma intenção de abrir sua mente para novas ideias. Já ela é bem espiritualista e acredita ser uma interlocutora de outros mundo, contactar com pessoas que já morreram e saber, misteriosamente, detalhes de qualquer pessoa apenas com um olhar. Os dois atores estão extremamente competentes, com papéis que realmente não são fáceis de interpretar. Mesmo tal fato não sendo uma surpresa, é sempre bom ver uma obra bem interpretada e muito bem escrita, que trouxe profundidade não só aos protagonistas, mas também a grande maioria dos coadjuvantes, faltando apenas um destaque maior ao personagem Brice (Hamish Linklater), mas nada que prejudique a qualidade da obra.

Como de costume a fotografia do filme é brilhante, com uma palheta de cores bem claras, que já viraram características das obras de Woody Allen. Temos, geralmente, paisagens bem claras, o predomínio de cenas externas e uma palheta de cores bem claras, assim como já vimos no trabalho mais recente do diretor. Uma fórmula que já definiu o "toque Woody Allen" em todos os seus filmes e que, provavelmente, não irá mudar tão cedo.

Magia ao Luar levanta questões interessantes a respeito de o que cada um pensa sobre misticismo e magia. Um filme bom, como já estão acostumados os fãs do diretor. O meu único receio é que esse costume acabe virando algo cíclico, repetitivo e, logo, algo frustrante. Woody Allen vem lançando um filme por ano desde 2002, o que pode (ou não) influenciar na qualidade de seus filmes futuros. O diretor tem um filme previsto para estrear ainda este ano, protagonizado por Emma Stone e Joaquin Phoenix, que se chamará Irrational Man e um projeto para um seriado de TV, ainda sem título, para 2016. Fica aí a dúvida: será que Woody Allen ainda tem seu controle de qualidade tão afiado como era antes, ou já está apelando pra uma fórmula para o resto de suas obras sem se preocupar em arriscar novos caminhos e fazer algo novo?

segunda-feira, 2 de março de 2015

Cekaj me, ja sigurno neću doći (2009)

(Obs: filme sem título no Brasil)


Cekaj me, ja sigurno neću doći  ("Espere por mim, e certamente não virei", tradução livre)
Diretor: Miroslav Momcilović
90 min

Alek (Gordan Kicić) está deprimido pelo término de seu namoro com Teodora (Milica Mihajlović) e mergulhado em sua depressão tenta de todas as formas recuperar seu relacionamento, ignorando as necessidades do amigo Bane (Miloš Samolov) que acabara sozinho após a morte do pai e abandono de sua mãe, que partiu em busca de um antigo amor. 

O filme narra a trajetória de um grupo de conhecidos que moram margeando um rio em Belgrado, contando duas histórias paralelas que se entrelaçam pelos casais nelas contidos. A narrativa, em sua maioria cômica, não deixa de explicitar o teor dramático vivido pelos personagens secundários, como Bane e sua mãe.

Destaque para a atuação de Miloš Samolov, que representou satisfatoriamente suas partes engraçadas, passando pelas que atribuem nervosismo e as que provocam lágrimas.O personagem de Gordan Kicić, Aleksandar (Alek), sofre um amadurecimento forçado durante a trama, visto que inicialmente poderíamos esperar sempre as partes mais cômicas do filme com sua aparição. Mas suas últimas cenas foram sérias o bastante para atribuir um final satisfatório de sua participação. A última cena é narrada por uma personagem de pouquíssima exploração, que se torna importante na última hora. E as sequências mostram o que foi feito de cada núcleo enquanto ouvimos um parágrafo sobre reprodução marítima retirada de um livro de Bane. 

A trilha sonora, em sua grande parte instrumental, contrasta sons típicos da música popular sérvia com
raps e hinos de torcida da Zvezda, os dois últimos cantados pobremente por um personagem em cenas cômicas. Culturalmente, o filme expõe os estereótipos locais todos de uma vez, talvez propositadamente, em uma cena em que um mendigo dá uma "aula" de como se recuperar de uma fossa, onde além de recomendar a ingestão de muito Brandy (conhaque típico sérvio) aconselha outras loucuras do tipo que diríamos "só os eslavos...".

O longa mostra as várias fases e consequências do amor, ou ao menos de um relacionamento, de uma forma ora muito sutil, ora muito forte.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Especial: Oscar 2015

Confira aqui a crítica de cada filme indicado a Melhor Filme ao Oscar 2015, e algumas das nossas apostas:

Os indicados a Melhor Filme são:

  1. American Sniper
  2. Birdman
  3. Boyhood
  4. The Grand Budapest Hotel
  5. The Imitation Game
  6. Selma
  7. The Theory of Everything
  8. Whiplash

Outros filmes indicados ao Oscar já criticados:
Apostas:

Melhor Filme: Boyhood 
Melhor Diretor: Alejandro González Iñárritu 
Melhor Ator: Eddie Redmayne 
Melhor Atriz: Julianne Moore 
Melhor Ator Coadjuvante: J.K. Simmons 
Melhor Atriz Coadjuvante: Patricia Arquette 
Melhor Roteiro Original: Boyhood 
Melhor Fotografia: Birdman ou O Grande Hotel Budapeste 
Melhor Filme Estrangeiro: Relatos Selvagens
Melhor Canção Original: Glory (do filme Selma)
Melhor Trilha Sonora:  A Teoria de Tudo
Melhor Edição: Boyhood ou Whiplash
Melhor Edição de Som: Birdman
Melhor Mixagem de Som: Whiplash
Melhor Figurino: O Grande Hotel Budapeste
Melhor Maquiagem: O Grande Hotel Budapeste
Melhor Direção de Arte: O Grande Hotel Budapeste 
Melhores Efeitos Visuais: Interestelar ou Guardiões da Galáxia

O Grande Hotel Budapeste (2014)

The Grand Budapest Hotel
Diretor: Wes Anderson
100 min.


No período entre as duas guerras mundiais, o famoso gerente de um hotel europeu conhece um jovem empregado e os dois tornam-se melhores amigos. Entre as aventuras vividas pelos dois, constam o roubo de um famoso quadro do Renascimento, a batalha pela grande fortuna de uma família e as transformações históricas durante a primeira metade do século XX. (AdoroCinema)

O diretor Wes Anderson sempre foi conhecido por sua exagerada simetria, sua brincadeira com as cores, seus personagens sempre bem caricatos, suas histórias cheias de reviravoltas, cenários extravagantes, câmeras estáticas, e mais um zilhão de características bem pessoais. Em O Grande Hotel Budapeste todas as suas características mais marcantes estão em perfeita harmonia, fazendo com que esse seja o melhor trabalho de todo o conjunto das obras do diretor até o momento. Se você já viu algum outro trabalho do diretor (como o incrível Moonrise Kingdom, de 2012) e aprovou, terá um prato cheíssimo aqui.

O Grande Hotel Budapeste nos apresenta uma história, de início, simples, porém que se desdobra ao decorrer dos minutos do filme, o que exige do espectador uma grande atenção aos fatos, mas não abusa deste fato. Você não é forçado a prestar atenção no filme, mas sim mergulhado lentamente na história. O filme não tem nenhuma pretensão de parecer real, mas é exatamente este fator que nos imerge na história, de tão bem escrita e reproduzida que ela é.

O filme conta com um elenco extremamente numeroso, com nomes bem importante, mas o destaque com certeza vai pra dupla principal interpretada por Ralph Fiennes e a revelação Tony Revolori. Com um humor britânico e até meio cínico, o filme se sustenta do início ao fim de maneira extremamente cômica, e que dá aquela sensação de "eu não deveria rir disso, mas não tenho pra onde correr". De resto, temos várias pequenas aparições especiais de atores como Tilda Swinston (que está irreconhecível). Willem DaFoe, Bill Murray, Owen Wilson, Edward Norton e outros, o que é sempre uma coisa bem legal de ver num filme,

A câmera do filme, assim como no resto da filmografia do diretor, é bem estática, movimentando-se apenas quando necessário, o que dá firmeza e "nome" ao diretor. Mas um fator diferenciado que acontece
nesse filme é que o estilo de câmera muda quando o filme muda o período de tempo em que a história se passa. Por exemplo, nas cenas aonde temos um período mais antigo, o filme é todo rodado em câmera 4x3 ("quadrada"), um fator muito interessante de ser analisado, que me pegou de surpresa.

Uma obra extremamente inovadora, tanto em aspectos técnicos, quanto em história. Que está despreocupada com a verossimilhança, de uma maneira bem positiva, e que satiriza sua própria história. Muito provavelmente, será o "Gravidade" do Oscar 2015: dominará os prêmios técnicos de uma maneira geral.

9 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Selma - Uma Luta pela Liberdade (2014)

Selma
Diretora: Ava DuVernay
128 min



Cinebiografia do pastor protestante e ativista social Martin Luther King, Jr (David Oyelowo), que acompanha as históricas marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana. (AdoroCinema)

Eu sempre achei a história dos negros estadunidenses no início do século XX uma coisa fascinante. Para ser mais honesto, sempre achei a história negra muito interessante. E a abordagem de Selma para essa situação é uma abordagem que eu nunca havia visto em nenhuma outra obra cinematográfica. O filme aborda, principalmente, o anseio negro aos simples direito do voto de uma forma grandiosamente interessante.

David Oyelowo não ter sido indicado ao Oscar de melhor ator foi uma tremenda injustiça por parte da academia. Ele representa com perfeição toda força, todo o cansaço, toda carga emocional depositada no personagem. É um personagem que cresce bastante durante as duas horas de filme. Esse crescimento é muito bem demonstrado, tanto em seus discursos motivacionais, quanto em sua relação com sua mulher Coretta, interpretada por Carmen Ejogo de uma maneira simples, mas bem profunda. O filme retrata muito bem a relação de King com o resto da população negra. Fica claro que King os via como irmãos, era uma relação muito pura, que o filme mostra com excelência.

Ainda sobre atuação, a ex-apresentadora Oprah Winfrey faz um papel coadjuvante no filme, que não aparece muito, mas sempre rouba a cena quando está presente. Tem uma cena em especial, que é uma das mais impactantes de toda a obra, devido ao show dado pela atriz. Não é a sua primeira aparição em uma obra cinematográfica, mas é, com certeza, a melhor. Merecia, até mesmo uma indicação ao Oscar.

Temos aqui uma palheta de cores limitada e voltada para cores como preto e marrom, ou tons mais
escuros de algumas outras cores, nas cenas em ambientes internos e bastante luz nos ambientes externos. Muitos objetos de madeira são espalhados pelos diversos cenários da obra, o que dá uma sensação bem legal. O filme não tentou contrastar suas cores com a cor negra, e, por mais simples que isso pareça, deu um resultado bem legal.

A direção do filme, que está nas mãos de Ava DuVernay, é  incrivelmente precisa e objetiva. Há, inclusive, uma cena envolvendo uma fumaça que é extremamente bem dirigida. A diretora marcou sua característica no filme, que resultou numa direção controlada e consciente. É uma direção que casa muito bem com a genialidade do roteiro do filme, que sempre mostra que o pensamento que permeava a maioria das mentes, principalmente da parte branca da população, é extremamente irracional.

Selma foi o filme mais esnobado do Oscar 2015, indicado apenas a Melhor Filme e Musica Original, com Glory, de John Legend. Com certeza, merecia uma indicação a melhor ator (David Oyelowo), trilha sonora, roteiro e direção, e uma indicação poderia sim ser dada a Oprah Winfrey, como atriz coadjuvante. Mas não podemos fazer nada em relação a isso... Porém continua sendo um filme necessário, que levanta um debate de até quando o preconceito e a descriminação vão durar. Assista Selma na primeira oportunidade que tiver, e não tenha medo de ir com bastante sede ao pote.

Viva o povo negro. Viva a liberdade.


Welcome to the story we call, "Victory"
The coming of the Lord
My eyes have seen the glory.

Glory (John Legend feat. Common)

2 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Sniper Americano (2014)

American Sniper
Diretor: Clint Eastwood
132 min

 
Adaptado do livro American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in U.S. Militar History, o filme conta a história real de Chris Kyle (Bradley Cooper), atirador de elite das forças especiais da marinha americana. Durante cerca de dez anos ele matou mais de 150 pessoas, tendo recebido diversas condecorações por sua atuação. (AdoroCinema)

Eu não sou o maior fã de Clint Eastwood. Vi somente dois filmes dele, e até gostei. Dizem, não se pode falar de Clint Eastwood sem ter visto nenhum filme de faroeste dele, mas não vai ser o que vai acontecer aqui. Peço desculpas aos fãs (se é que eu preciso).

Eu nunca fui muito de filmes de guerra, principalmente pelo fato de a maioria não serem filmes muito justos. Geralmente, não são muito imparciais, que mostram o evento por si só, sem enaltecer um dos lados da moeda. E já digo, de antemão, que Sniper Americano só segue este padrão, mostrando a guerra no Iraque, que aconteceu em 2003, somente do ponto de vista americano, e subvalorizando o "outro lado" de uma forma tamanha. A maior prova disso é o personagem Mustafa, que é de extrema importância para o decorrer do filme, mas que não possui uma fala se quer. Isso pode não incomodar à alguns, mas ao meu ver, é um ponto bem negativo.

Porém, o filme acerta muito bem em se estender e aprofundar bastante nos fatores psicológicos de uma guerra, abordando seus fatores "históricos" (por mais que erroneamente) e seus fatores pessoais. O filme é dividido entre quatro "turnês", quatro fases diferentes da guerra, na qual a "equipe" de Chris faz parte. E são turnês com um certo período de tempo entre si. Nesses períodos o diretor mostra o lado pessoal da guerra, fazendo um balanço bem legal e resultando num filme que te deixa descansar por um tempo.

Como qualquer obra com temática de guerra que se preze, Sniper Americano tem uma edição muito
frenética e um som tridimensional que são excelentes. Quando a boa técnica do filme se juntou as cenas de guerra em si, brilhantemente dirigidas por Eastwood, o resultado foram cenas muito bem feitas, com um intervalo muito bem calculado, ou seja, tudo acontece no tempo certo, nada fica maçante. E aqui o diretor implanta um suspense de tirar o fôlego (literalmente) em cem porcento das cenas de ação, com um extremo suspense, e de decisões que podem custar vidas.

As atuações são todas de extrema qualidade, nisso não há dúvida. Com certeza, o destaque do filme vai pro Bradley Cooper, com uma indicação até merecida, mas que certamente não passará de uma indicação. O personagem interpretado por Cooper acaba sofrendo várias sequelas pós-guerra, o que é o mais notável de toda sua interpretação. Porém, o filme não foca apenas no protagonista, mas sim na relação dele com os personagens secundários, o que é feito com um cuidado extremo por parte do diretor Clint Eastwood e o roteirista Jason Hall. As várias sub-tramas que o filme apresenta dão cada vez mais carga emocional ao personagem, principalmente a relação do protagonista com sua esposa Taya, interpretada muito bem por Sienna Miller.

A trilha sonora aqui é um fator bem interessante. Ela tem um caráter bem experimental, que não casou com o resto do filme. Uma mistura da trilha de Transformers com uma espécie de faroeste. Mas o mais curioso é que, fazendo minhas pesquisas, descobri que uma parte da música do filme foi composta pelo próprio Clint Eastwood (pausa para o "WHAAAAAAT"), junto com Joseph S. DeBiasi. Ao meu ver, não foi uma dupla que deu muito certo não...
Então, sim, o problema do filme é só um. A falta de verossimilhança em alguns fatos e a exaltação estadunidense pesaram muito o filme, de uma forma extremamente negativa, o que ofuscou vários dos pontos positivos do filme. Então vá preparado para um patriotismo exagerado, mas se isso não te aflige, você terá uma ótima experiência cinematográfica.

6 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Caminhos da Floresta (2014)

Into the Woods
Diretor: Rob Marshall
125 min.


Um padeiro e sua mulher (James Corden e Emily Blunt) vivem em um vilarejo, onde lidam com vários personagens famosos dos contos de fadas, como Chapeuzinho Vermelho (Lila Crawford). Um dia, eles recebem a visita da bruxa (Meryl Streep), que é sua vizinha. Ela avisa que lançou um feitiço sobre o casal para que não tenha filhos, como castigo por algo feito pelo pai do padeiro, décadas atrás. Ao mesmo tempo, a bruxa avisa que o feitiço pode ser desfeito caso eles lhe tragam quatro objetos: um capuz vermelho como sangue, cabelo amarelo como espiga de milho, um sapato dourado como ouro e um cavalo branco como o leite. Eles têm apenas três dias para encontrar tudo, caso contrário o feitiço será eterno. Decididos a cumprir o objetivo, o padeiro e sua esposa adentram na floresta. (AdoroCinema)

A adaptação cinematográfica do musical da Broadway, Into the Woods, chegou ao cinema depois de anos de produção. Não sou o maior fã da Disney, nem de musicais, mas não consigo dizer não à Meryl Streep. Confesso que fui ao cinema esperando decepção em história, mas grandiosidade técnica. Foi isso que aconteceu? Mais ou menos...

A Disney sempre foi muito perfeccionista no caráter técnico em seus trabalhos, principalmente em saber retratar grandiosas paisagens e planos bem abertos e claros. Mas aqui eles foram além. Uma coisa bem interessante, é que ele usou do aspectos técnicos pra fazer jus ao tema do filme. A câmera parece quase sempre estar escondida atrás de galhos de árvores ou folhas, o que dá um efeito incrível. E, como já foi dito, o filme foi baseado numa peça teatral. O diretor (que já fez filmes como Chicago e e Nine) teve uma ideia muito respeitosa ao representar alguns elementos, algumas cenas de uma maneira mais simples, como ele seria no teatro, principalmente na representação do Lobo Mau, interpretado por Johnny Depp.

Falando em atuação, o elenco principal está muito bem. Obviamente, Meryl Streep rouba a maioria das cenas interpretando uma Bruxa Má que quer retomar um elemento muito importante que já lhe pertenceu em tempos passados. Mas quem me surpreendeu bastante nesse filme foi Anna Kendrick. Quem diria que uma mera atriz da saga Crepúsculo estaria protagonizando um filme, e fazendo um trabalho muito bom. É uma atriz que ainda tem muito a crescer, e se seguir os caminhos certos, pode surpreender mais ainda daqui a alguns anos. A decepção do filme, em termos de atuação, é o Johnny Depp, infelizmente. Não é nem culpa do ator, mas de um talento completamente menosprezado por parte do roteiro. Depp aparece em nada mais, nada menos que duas cenas, e que, pra falar a verdade, nem são lá essas coisas...

Um dos pontos mais positivos da obra é a interação dele o espectador, que consegue prender sua atenção (mesmo dando a sensação de ter mais horas do que realmente tem). O filme brinca com ele mesmo em várias cenas, ridicularizando os próprios personagens, como em uma cena bem curiosa aonde os príncipes fazem piada com os estereótipos do próprio personagem, ou então quando tudo congela e Cinderella canta On the Steps of the Palace, uma música sobre seus pensamentos e sobre a sua primeira grande decisão da vida (duvido que você que já assistiu não completou a fala dela com "a shoe!"). As cenas musicais, em sua maioria, são as de maior qualidade do filme. O fato do filme ser um musical só adiciona ao filme, isso é fato.

O filme dá uma grande escorregada ao tentar fugir do padrão "príncipe e princesa felizes para sempre". Mesmo com a intenção sendo boa, o diretor me pareceu meio perdido ao apresentar três plot-twists no fim do filme, o que pode não agradar a todo mundo. Quando você acha que está tudo chegando ao fim, o diretor te pega pelo pé e te joga na poltrona de cinema de novo para mais uma hora de acontecimentos que não foram muito bem aproveitados. Acontece muita coisa logo de cara (algumas bem interessantes, outras nem tanto assim...), o que não deixa o espectador respirar por um bom tempo, o que deu uma sensação bem confusa.

A Disney vem, nos seus últimos trabalhos, desconstruindo seu tal padrão "príncipe e princesa felizes para sempre", o que é uma iniciativa bem legal, mas que já foi entendida. Já tivemos Valente, Frozen, Malévola, e agora Caminhos da Floresta para nos contar isso. E bem... já entendemos. A Disney já pode partir pra outra, mesmo não sendo essa a previsão. Já foram confirmadas a produção de um filme da Cinderella, previsto pra 2 de Abril deste ano, e um live action da Bela e a Fera, que será protagonizado por Emma Watson. A estimativa, é que estes filmes venham para, mais uma vez, reforçar a mesma ideia que a dos últimos, o que seria maçante e cansativo. Só nos resta esperar...

Resumindo, assista Into the Woods se você gosta de musicais, de contos de fada e da nova leva de filmes produzidos pela Disney. Não espere o filme mais coeso, original ou incrível do mundo. Espere se divertir e ver paisagens bonitas. Ah, e espere com certeza sair com a música tema em sua cabeça pra nunca mais sair...





Indicado a 3 Oscars



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Relatos Selvagens (2014)

Relatos Salvajes
Diretor: Damián Szifron
122 min.


Diante de uma realidade crua e imprevisível, os personagens deste filme caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Uma traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno detalhe cotidiano são capazes de empurrar estes personagens para um lugar fora de controle.  (AdoroCinema)

Meu Deus do céu, que filme é esse. Eu realmente estava muito animado com esse filme depois de ver muita gente falando bem, e ainda mais depois da indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas eu realmente não estava preparado para o que fui apresentado em Relatos Selvagens. Ainda estou maravilhado com a overdose de qualidade que é esse filme. Sério mesmo.

O filme é composto de seis histórias: Pasternak, Las Ratas, El más Fuerte, Bombita, La Propuesta e por fim, Hasta que la Muerte nos Separe. Todos os contos possuem um incrível poder de persuasão que me deixaram vidrados do início ao fim. Isso cabe ao incrível roteiro de As seis histórias que, de início, podem parecer desconectas, mas a relação entre elas é incrível. Mesmo que bem inverossímeis, são histórias aonde o ser humano é levado ao extremo. O filme é bem ousado ao mostrar as coisas que as pessoas geralmente pensam, mas não fazem, mas não sinceros ao ponto de mostrarem suas consequências. E é realmente essa a graça do filme. Ele tem um humor quase sádico, que dá aquela curiosa sensação de culpa de gargalhar (alto) de coisas extremamente absurdas que são apresentadas pelo filme. Perdi as contas de quantas vezes eu fiquei boquiaberto com as situações apresentadas, principalmente na última história.

Todos os atores estão muito bem mesmo, porém há alguns que se destacam. Eu nunca havia entrado em contato com os filmes do Ricardo Darín (considerado o melhor ator argentino de todos os tempos), então fiquei bem animado quando sua história começou. Não digo que me frustrei, mas que no próprio filme há atores que se sobressaem muito mais, como Érica Rivas, no último conto Hasta que la Muerte nos Separe e Rita Cortese, como a cozinheira no conto Las Ratas. Os dois contos são incríveis, em minha humilde opinião, os melhores do filme.

Logo de cara, os relatos não possuem um elo. A construção do espectador da mensagem do filme é uma experiência bem singular e inacreditável. Não quero me aprofundar muito sobre isso, pois é bem legal ir conhecendo o filme aos poucos para tentar entender o que os relatos tem em comum. O resultado é surpreendente.


Em termos técnicos, se ressalta a câmera do filme, que é bem simples, porém bem ágil. Geralmente nas cenas em que o personagem está dirigindo um carro, a câmera fica presa em algum lugar do veículo, o que resulta em ângulos pouco convencionais e bem diferentes. O roteiro do filme é de extrema qualidade. Ele acerta em cheio em agarrar o público pelo pé, em chamar a atenção, de um jeito bem particular. Também acerta em diálogos muito bem pensados e, mesmo que pouco verossímeis, que funcionam de maneira grandiosa.

Relatos Selvagens é um filme de um humor bem sádico, que mostra o que o ser humano pode fazer em momentos de fúria ou descontrole, que resultou num filme incrivelmente satisfatório. Posso dizer que fazia bastante tempo que não via um filme tão original e com acontecimentos tão surpreendentes. Indico com todas as minhas forças!

1 indicação ao Oscar 2015

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação (2014)

The Imitation Game
Diretor: Morten Tyldum
114 min.


Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico monta uma equipe que tem por objetivo quebrar o Enigma, o famoso código que os alemães usam para enviar mensagens aos submarinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict Cumberbatch), um matemático de 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, que tem problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não demora muito para que Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe. Seu grande projeto é construir uma máquina que permita analisar todas as possibilidades de codificação do Enigma em apenas 18 horas, de forma que os ingleses conheçam as ordens enviadas antes que elas sejam executadas. Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá que aprender a trabalhar em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) sua grande incentivadora. (AdoroCinema)

Eu quero te pedir um favor, pode ser? Pense aí em alguma cinebiografia (que se preze, claro) que você já tenha visto. Qualquer uma. Eu creio que posso afirmar duas coisas: a primeira é que, muito provavelmente, o protagonista dessa história é alguém importante e, de certa forma, popular, que muitas pessoas conhecem (Steve Jobs, Renato Russo, Stephen Hawking... e por aí vai). A segunda é que o filme com certeza não gastou seu tempo mostrando coisas já imensamente conhecidas da vida da tal pessoa, e se mostrou, foi num caráter bem pessoal da figura retratada.

Agora imagine um filme, biográfico, de uma pessoa que não é tão conhecida assim. Cabe ao diretor citar os fatos importantes da vida da pessoa e retratar o emocional, os segredos da pessoa, para ter um resultado final, ao meu ver, de sucesso. E esse é o problema crucial aqui. O filme se responsabiliza apenas em apresentar os grandes feitos de Alan Turing (que realmente devem ser exaltados), mas nos dá uma noção bem pobre sobre os questionamentos do protagonista, principalmente no que se trata sobre sua sexualidade, o que faz total diferença no filme.

O filme por completo tem 114 min. que não são muito bem aproveitados. Existem cenas que são completamente dispensáveis, tempo este que deveria ter sido utilizado para explicar outros aspectos da vida do matemático inglês. Realmente, isso não tem justificativa...
Porém se há uma coisa que o filme acerta em cheio (é um pouquinho exagerado, mas nada demais), é em mostrar a fixação de Turing em seu objetivo de desvendar o código Enigma. A posição dele em relação à Guerra é quase indiferente. Ele é cem porcento determinado apenas em vencer o código. Pouco importa quem sairá ganhando no final.
O pobre do Benedict Cumberbatch está muito bem nesse filme. Uma coisa curiosa é que mesmo sem haver nenhum tipo de estudo de personagem muito aprofundado no filme, a atuação do Bennedict conseguiu dar várias características bem marcantes ao personagem. O estudo de personagem aqui sobra todo para Cumberbatch. Fica claro que o ator estava dando seu máximo para que seu personagem, assim como seus atos durante a trama, fossem compreendidos pelo espectador. Alan Turing com certeza não foi alguém comum. Com certeza teve vários problemas bem pessoais ao longo de sua vida (o que, inclusive, resultou em seu triste fim), que foram bem interpretados por Cumberbatch, mas claro, na medida do possível. Isso funcionou de uma maneira rasa, obviamente, pois sobrou apenas para o ator. O problema só se agrava no elenco coadjuvante, o que é até espantoso. O elenco do filme não é ruim, conta com Keira Knightley e Charles Dance, do Game of Thrones (já logo aviso que o personagem dele aqui é exatamente igual ao do seriado, Tywin Lannister. Não espere uma atuação muito diferente). São ótimos atores que não têm muito conteúdo pra trabalhar.

Em questões técnicas, o filme não apresenta muitas novidades. Tudo foi bem feito, porém não há nada muito diferente, ou espetacular. A reconstrução de época foi muito bem feita, mas nada que A Teoria de Tudo já não tenha feito de forma muito melhor. Se há alguma coisa a se exaltar é o pouco de planos muito abertos, o que dá uma claustrofobia muito interessante ao filme, e que dá uma sensação bem curiosa. Alan Turin passou um grande período de tempo desenvolvendo uma solução para o código Enigma, logo a maioria das cenas do filme são em quartos, ou salas de estudo.
Em suma, sinto dizer que temos um resultado mediano, que não é digno de todas as suas 8 indicações ao Oscar (com exceção da justíssima indicação de Benedict Cumberbatch). Um resultado final frustrante e até meio preguiçoso. Não é um filme de todo ruim, mas que quando acaba, nos dá aquela sensação de que não vimos tudo o que deveríamos. Eu estranhei o fato desse filme ter sido indicado e ganhado tantos prêmios, e prêmios importantes. Então tire suas próprias conclusões, mas recomendo que não vá com tanta sede ao pote...

8 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Sinédoque, Nova York (2008)

Synecdoche, New York
Diretor: Charlie Kaufman
124 min



Já quero adiantar que esse filme é um filme bem específico. Talvez alguém que não tenha tido contato com a obra possa ficar meio perdido durante a leitura da crítica. Se quiser arriscar, que seja por sua conta e risco.

Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) é um diretor de teatro que está preparando uma nova peça, ao mesmo tempo em que enfrenta problemas pessoais. Sua esposa, Adele Lack (Catherine Keener), resolveu deixá-lo para morar em Berlim, levando consigo a filha Olive (Sadie Goldstein). Madeleine Gravis (Hope Davis), sua terapeuta, aparenta estar mais interessada em divulgar seu best seller do que em ajudá-lo. Preocupado com a vida e seu estado de saúde, cada vez mais debilitado, Caden decide reunir um grupo de atores em um armazém de Nova York. Lá ele pode enfim dar vazão à sua criatividade, buscando uma peça que seja cada vez mais um paralelo de sua própria vida. (AdoroCinema)

Antes de tudo, quero agradecer ao Álvaro pela indicação. Já estou no aguardo de outras.

Vamos lá.

O trabalho do diretor aqui é bem interessante. Ele assina roteiros de filmes incríveis, como Adaptação (2002), Quero Ser John Malkovich (1999) e, de um dos meus favoritos, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), mas esse foi seu primeiro (e único, até agora) trabalho como diretor de cinema, de acordo com o IMDb. O trabalho de Kaufman aqui é bem interessante de ser analisado. Ele abordou um assunto que pode nem passar na cabeça de muitos. O "despertar" que o filme dá sobre o tema, ainda mais da maneira que foi feito, é muito delicado, e foi muito bem explorado. Uma obra que surpreendeu bastante, ainda mais prum primeiro trabalho.

Esse filme é extremamente particular. Daqueles que cada um têm uma interpretação diferente do outro, daqueles que a gente pode passar horas após o filme discutindo sobre o tema levantado no filme. E é muito curioso responder as perguntas levantadas no filme, até porque algumas nem tem resposta. O filme se questiona até que ponto a arte pode imitar a vida, ou com que proporcionalidade isso pode acontecer. Mostra o quanto que a arte pode interferir na vida de uma pessoa, mostrando aspectos positivos e negativos de tal fato. Mas o diferencial do filme é esse: quem deve decidir o que é benéfico e o que é maléfico aqui é você, espectador. Não espere um filme mastigado e com todas as informações que você precisa logo de cara.

Em algumas cenas o filme assume um caráter bem niilista. Ele bate muito na tecla de que todos os seres humanos estão fadados à morte (o que é verdade). Mas a interpretação dos personagens sobre o assunto é bem diferente, então a variabilidade de opiniões é bem grande, o que é sempre um ponto positivo. Quer dizer, porquê te jogar numa opinião só, quando se pode expor várias visões e você mesmo ter a liberdade de escolher o que julga mais correto?

Nem precisa falar da incrível atuação do Philip Seymour Hoffman, né? Ele está incrivelmente bem aqui. Foi realmente uma perda muito grande pro mundo do cinema. A construção do personagem dele é fantástica, o que com certeza exigiu muito dele. A necessidade do protagonista de registrar sua história foi muito bem explorada. E de resto, todo mundo se sai muito bem aqui.

É difícil falar de aspectos técnicos desse filme. Até mesmo pelo motivo de que ele não é pra ser analisado desse jeito. Mas se a algo que eu posso dizer que contribuiu muito para a narrativa da história, é que o diretor conseguiu impor um estilo no filme. As cenas, principalmente no início do filme, são bem diretas, bem objetivas, e raramente com cores sem muito brilho, saturação.

Eu sei que não fui muito claro, mas se tem algo bem certo em relação a esse filme é: assista Sinédoque, Nova York se acha que você está precisando de uma "sacudida" na sua vida. De alguém que te pegue pelos ombros e fale "WAKE UP, DUDE!". Se acha que precisa de uma nova perspectiva da arte, ou da vida. Ou dos dois. Vale a pena assistir, é um ótimo filme, mas vá bem preparado. Não diria que ele é um filme forte, um "soco no estômago" ou coisa assim, mas que, com certeza, pode dar uma nova visão das coisas.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014)

Whiplash
Diretor: Damien Chazell
107 min


Eu toco bateria já devem fazer uns cinco ou seis anos. Se bobear até mais. Obviamente, quando ouvi falar sobre um filme sobre uma baterista (ainda por cima de jazz), já se despertou um interesse, mas o tempo foi passando e eu fui esquecendo de acompanhar seu processo de criação. Meses se passaram e quando eu checo a lista do Oscar, lá está: Whiplash. A única coisa que penso é que necessito ver esse filme. Eu realmente estava com as expectativas extremamente altas.

E com certeza não fui decepcionado.

O solitário Andrew (Miles Teller) é um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música americana como fez Buddy Rich, seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher (JK Simmons), Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos Estados Unidos. Entretanto, a convivência com o abusivo maestro fará Andrew transformar seu sonho em obsessão, fazendo de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos com sua namorada e sua saúde física e mental. (AdoroCinema)

JK Simmons e Milles Teller têm uma química incrível juntos, por mais que os personagens de ambos sejam bem diferentes. Os dois estão muito bons, mas o destaque com certeza é o JK Simmons, como Fletcher, que ganhou o Globo de Ouro esse ano. Ele faz um personagem extremamente autoritário, que exige a mais completa perfeição de seus alunos, que pode parecer a pessoa mais odiável do mundo nos primeiros minutos, mas enquanto o tempo vai passando o espectador conhece mais do personagem e vai construindo aos poucos uma opinião sobre ele. Pra resumir, não tem como amar nem odiar o personagem. Ele é extremamente exigente (o que nos faz nos perguntarmos até que ponto o que ele faz é correto), mas ao mesmo tempo procura que seus alunos atinjam seus objetivos. Já o Milles Teller, como Andrew não é um protagonista muito convencional. Não é muito fácil gostar dele, mas mesmo assim é muito bom lutar pelos seus objetivos junto com ele. Você não gosta muito dele, mas quer que ele vá bem nas apresentações. É estranho, mas juro que faz sentido.

O trabalho do diretor Damien Chazell aqui foi excelente. Ele soube muito bem aproveitar dos aspectos técnicos do filme para retratar a tensão ou o alívio do filme, dependendo da cena. Para as cenas da banda, ou só do Andrew tocando, o diretor usa cortes rápidos, vários takes bem detalhados e curtos, que, quando seguidos, dão uma sensação de rapidez de tirar o fôlego, que está muito bem feita e que acrescenta muito ao filme. Já nas cenas mais lentas, mais calmas, a câmera geralmente está parada, simplesmente mostrando o que deve ser mostrado. Isso ficou incrível.

Uma das coisas mais legais de se ver no filme é, com certeza, as performances musicais que, acredite ou não, todas são reais. Me peguei boquiaberto várias vezes com a perfeição apresentada por parte não só do Milles Teller (que é um baterista desde criança, e diz que aprendeu sozinho), quanto pelos outros músicos do filme. Tocar jazz é muito difícil. Fingir erros, mais ainda. E a obra está repleta de cenas assim, o que é realmente impressionante (vai ver o Terence Fletcher é um alter-ego do diretor...).

Mas, como tudo não são só flores, o elenco mais coadjuvante do filme realmente não tem muita serventia. No caso, falando mais do pai do Andrew e da "namorada" dele. O pai dele tem um papel até bem legal e importante pra construção psicologica do personagem, ele é o único membro da família dele que sobrou após a mãe ter fugido após seu nascimento, mas o ator, Paul Reiser, não oferece nada demais. Mas o problema mesmo aparece na personagem Nicole, namorada de Andrew, interpretada por Melissa Benoist. Não é que ela atua mal, mas a personagem dela podia ser completamente retirada do filme que nada seria perdido. Ela é completamente inútil nesse filme.

Whiplash é perturbador em alguns momentos, mas isso com certeza não é um ponto negativo. Ele não chega a sufocar o espectador, sabendo aonde acabar com a pressão psicológica nos personagens no momento certo. E que tem uma cena final, quase sem falas, que é extremamente satisfatória. Não tem como não ficar de cara com esse final. Pra resumir: gosta de Jazz? Assista Whiplash. Gosta de bateria?Assista Whiplash. Gosta de música? Assista Whiplash. Gosta de... ah, que seja. Assista Whiplash.



 

5 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014)




Birdman
Diretor: Alejandro González Iñárritu
119 min

No passado, Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente. (AdoroCinema)

Esse filme é um filme bem peculiar... acho que particular seria uma palavra melhor. A - quase - metalinguagem do filme (ou seja, o filme falando sobre uma produção teatral, que se assemelha muito com o cinema em alguns quesitos) propõe um filme bem diferente. E é realmente isso que nos é apresentado.

O elenco de Birdman me surpreendeu. Michael Keaton está excelente, existem várias cenas na qual só ele está presente que são de cair o queixo. Mas o que mais é satisfatório aqui é que ninguém aparece por acaso, não há talento desperdiçado por parte tanto do elenco principal quanto do coadjuvante. O trabalho do Michael Keaton não é levar o filme inteiro nas costas, mas sim interagir com todos os personagens apresentados, tanto de uma forma mas grupal, quanto individual. Esse é um ponto bem positivo pra obra, todos os personagens tem uma simbologia, um significado bem individual aos olhos de Riggan Thomson o que enriquece a experiência do espectador. E um destaque deve ser dado para a Emma Stone e pro Edward Norton. Os dois têm uma certa "química" que aliviou algumas partes mais pesadas. Mas quando estão em cenas separadas, os dois também dão um show.

Um dos fatores que mais chama a atenção aqui é o fato dele parecer que não possui corte algum. A obra possui takes extremamente longos, o que merece muito destaque. Com certeza foi muito dificil "guiar" esse filme. A câmera também é bem singular, bem minimalista, não apresenta ângulos incríveis ou algo do tipo, porém mostra uma continuidade muito bem feita. Só vendo pra entender...

Com certeza a direção aqui foi uma tarefa árdua para Alejandro González Iñárritu, justamente pelos fatos já citados. Ele já tinha feito um excelente trabalho em "Biutiful" (2010), mas aqui ele está fenomenal. Desculpa Linklater, mas o Oscar de melhor diretor vai para Alejandro González Iñárritu (ou realmente não há justiça alguma nesse mundo).

A trilha sonora é bem interessante, mas chega a ser um pouco maçante. Ela é composta quase que exclusivamente por apenas uma bateria, o que combina em algumas cenas, mas em outras não. A história dá uma explicação para essa trilha sonora logo no início (em um pequeno detalhe, bem rápido até, de uma cena, mas que é hilária), mas que é utilizada de maneira um pouco exagerada.

Birdman faz uma crítica muito pesada sobre "a geração blockbuster" e sobre como, nos dias de hoje, é difícil para alguém que já foi famoso há alguns anos atrás voltar aos "dias de ouro" por puro mérito próprio e talento, e mostra a dificuldade de produção, as dificuldades para lidar com os atores e os bastidores de uma peça. Com um final surpreendente, Birdman é um filme excelente, que pode sair de mãos cheias na cerimônia do Oscar.



Música tema de "Birdman"


9 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor filme"


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um Santo Vizinho (2014)

St Vincent
Diretor: Theodore Melfi



"Maggie (Melissa Mcarthy) acaba de se divorciar. Ela e o filho de 12 anos se mudam. Um vizinho, St. Vincent De Van Nuys (Bill Murray), se aproxima deles e se oferece para cuidar do menino. Depois de hesitar, Maggie aceita, pois é enfermeira e faz plantões de madrugada. Uma grande amizade nasce entre o menino e o veterano de guerra, Vincent. Apesar de ele não ser a pessoa mais indicada para cuidar de uma criança, essa amizade faz muito bem ao menino." (AdoroCinema

Guiado pela fórmula infalível da amizade oriunda do contraste, St. Vincente me surpreendeu principalmente por não ser tão previsível em seu enredo. Nada nos é apresentado explicitamente no início, gerando detalhes que necessitam ser observados ao decorrer do filme, que por sua vez não se resume cem porcento na categoria comédia. Embora seja recheado de piadas originais, o longa também possui sua carga dramática (me fez chorar), reservada para o final, após o espectador criar uma relação afetiva com os personagens.

Bill Murray aparece impecável, fazendo o tipo "amavelmente odiado" que normalmente arranca simpatia do público. Naomi Watts, quase irreconhecível com cabelo rosa desbotado, maquiagem de gosto duvidoso e um sotaque estranho (provavelmente eslavo) aparece interpretando uma stripper grávida que seria provavelmente a única amiga de Vincent, antes da família de Oliver se mudar para a casa ao lado. Com a chegada do garoto e sua mãe, Vincent tem sua tranquilidade instantaneamente perturbada, mas não nega ajuda ao garoto quando esse se encontra trancado para fora de casa após o primeiro dia de aula.



A partir de então, o enredo se desloca para um duplo ponto de vista, entre Oliver e Vincent, enquanto o velho arrasta o garoto para seus "afazeres" cotidianos, incluindo apostas num hipódromo e bares frequentados tarde da noite. Depois de um certo ponto de exposição da vida errônea do vizinho, a trama se volta para o lado mais humano de Vincent, visto que ele visita sua esposa no asilo toda semana, mesmo que ela não se lembre dele, e grande parte do dinheiro ganhado na aposta foi para uma poupança para seu neto (o que na minha opinião foi uma informação insatisfatória, pois em nenhum momento nos é apresentada a família de Vincent).


Com uma trilha sonora no mínimo empolgante, St. Vincent é aquele filme que qualquer um torce para não terminar (falando nisso, existe uma mini cena durante os créditos, com Bill Murray cantando Bob Dylan!), não me atrevo a dizer que seja um blockbuster (se é que tem como classificar algum filme completamente), mas talvez eu me atreva sim a dizer que o longa agradaria desde os leigos até os mais chatinhos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Invencível (2014)

Unbroken
Diretor: Angelina Jolie
137 min


O drama retrata a história real do atleta olímpico Louis Zamperini (Jack O'Connell), que sofre um acidente de avião, e cai em pleno mar. Ele luta durante 47 dias para reencontrar a terra firme, e quando consegue, é capturado pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. (AdoroCinema)

Angelina Jolie... a senhora me fez chorar em público. Muito obrigado.

A cinebiografia de Louis Zamperini foi retratada de uma forma muito diferente aqui. Ao invés de "elevar o nível" de Louis, de dar ao "personagem" uma superioridade em relação aos demais, a diretora escolheu simplesmente focar em um personagem para demonstrar uma situação vivida por uma gama enorme de pessoas. Claro que o filme aborda várias particularidades da vida de Louis, coisas que aconteceram apenas com ele, mas também deixa claro que os outros soldados do exercito estadounidense também tiveram seus momentos marcantes e traumáticos.

A fotografia do filme é brilhante. Mesmo com um cenário não muito agradável, Jolie conseguiu
enquadramentos perfeitos e cenas lindíssimas, contando bastante com ambientes externos e beleza natural. Os ambientes sempre claros caíram muito bem no filme, e reforçaram bem a ideia de persistência do protagonista. Só vendo pra entender o ótimo trabalho que foi feito aqui. Uma estatueta seria justíssima.

Jack O'Connell faz uma interpretação boa como Louis Zamperini, mas nada demais é apresentado. Ele cumpre sua tarefa com sucesso, mas não apresenta mais do que o necessário. No elenco de apoio, destaca-se Miyavi, um cantor japonês que aqui interpreta Mutsushiro Watanab, um personagem odiável do início ao fim, que está muito bem do início ao fim, tanto pela transformação física, quanto pela presença do ator. Um ator japonês de presença realmente seria muito importante para o filme, e isso o enriqueceu de uma maneira bem particular.

A trilha sonora "à lá" John Williams do filme é muito boa, conseguiu acompanhar bem o filme, dando o tom certo para as cenas, sem exagerar muito, o que é sempre bom.

Invencível nos apresentou grandiosamente a brilhante história de Louis Zamperini, mas uma das decisões mais importantes da vida do "personagem" está apenas naquelas letrinhas finais do filme que toda cinebiografia tem, que conta o que aconteceu com os "personagens"  tempos depois do filme. Confesso que não sei se isso é um ponto positivo ou negativo. A última cena do filme (com trilha sonora dos britânicos do Coldplay), que conta com o real Louis Zamperini, é extremamente simples e completamente emocionante, que me fez começar a rir e chorar ao mesmo tempo, de uma forma bem... honesta, digamos assim. E olha que, sinceramente, não sou a pessoa mais chorona do mundo não...

Fica aí a dica de um filme incrível, sensível e indispensável.



"I'd made it this far and refused to give up because all my life I had always finished the race"
Louis Zamperini


3 indicações ao Oscar 2015