sexta-feira, 10 de abril de 2015

Mommy (2014)

Mommy
Diretor: Xavier Dolan




Diane Després (Anne Dorval) é surpreendida com a notícia de que seu filho, Steve (Antoine-Olivier Pilon), foi expulso do reformatório onde vive por ter incendiado a cafeteria local e, com isso, provocado queimaduras de terceiro grau em um garoto. Os dois voltam a morar juntos, mas Diane enfrenta dificuldades devido à hiperatividade de Steve, que muitas vezes o torna agressivo. Os dois apenas conseguem encontrar um certo equilíbrio quando a vizinha Kyla (Suzanne Clément) entra na vida de ambos. (AdoroCinema)

Xavier Dolan é um jovem diretor bem conhecido por filmes ousados, que não se preocupa em "mostrar demais", em chocar o espectador, mas sempre com um cuidado bem especial em transmitir sua mensagem de uma maneira bem clara. Suas obras se assemelham a fábulas do mundo moderno que retratam vidas cotidianas e exploram ao máximo seus protagonistas. E Mommy não podia ser diferente.

O elenco principal é formado por um trio excepcionalmente bom, os atores estão todos extremamente competentes. Três personagens bem contrastantes que se completam de uma maneira bem inteligente. Temos uma mãe solteira, um filho problemático e uma vizinha tímida que vão se descobrindo aos poucos até criarem uma dependência quase visceral entre si. É muito interessante analisar os personagens e perceber como cada fato tem um significado diferente para cada um. O espectador se sente amigo dos protagonistas logo de cara (coisa que eu não via desde Boyhood), o que me causou diversas reações.

Mommy tem uma particularidade técnica bem curiosa: uma grande maioria do filme é rodada na câmera em 1:1, ou seja, a câmera do filme é "quadrada", como se estivéssemos assistindo um vídeo no Instagram, por exemplo. O efeito dá uma sensação de claustrofobia que pode incomodar no início, mas logo o incomodo se esvai. Mas, como já foi dito, não é o filme todo que é rodado assim. Quando a câmera finalmente é aberta nós somos presenteados com uma cena que estará guardada na cabeça da maioria dos espectadores por um bom tempo. Uma cena aonde tudo faz sentido, aonde se entende o uso da câmera em 1:1, onde todo o "peso" do filme acaba. É uma daquelas cenas que você simplesmente não quer que acabe. Confesso que abri um sorriso de orelha a orelha. Foi realmente uma experiência cinematográfica fantástica.

A trilha sonora é bem interessante, contendo algumas músicas bem conhecidas como o clássico Wonderwall, do Oasis (que eu duvido que depois deste filme você irá encarar da mesma maneira) e Born to Die, da Lana del Rey, que encerra o filme. Tudo é muito bem calculado e toca no momento exato. Mas acho que o principal de se destacar em relação a trilha sonora é que não foram usados apenas alguns segundos da música, e sim a música completa, na maioria dos casos (e convenhamos, não é legal quando o filme corta na melhor parte da música...) quanto à trilha instrumental, conhecida como score, também é de exímia qualidade. Sempre bem leve e bem aplicada.

Mommy é uma obra repleta de detalhes, com alguns aspectos técnicos bem particulares que trata sobre uma gama enorme de assuntos, mas a crítica quase que subliminar dele em relação ao conceito de família foi o ponto alto do filme, que quebra paradigmas sociais de uma forma bem fluida e racional de uma forma pouco convencional e bem inteligente. Um prato cheio até para os cinéfilos mais exigentes!

-We still love each other, right?
-That's what we're best at, buddy.