sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014)

Whiplash
Diretor: Damien Chazell
107 min


Eu toco bateria já devem fazer uns cinco ou seis anos. Se bobear até mais. Obviamente, quando ouvi falar sobre um filme sobre uma baterista (ainda por cima de jazz), já se despertou um interesse, mas o tempo foi passando e eu fui esquecendo de acompanhar seu processo de criação. Meses se passaram e quando eu checo a lista do Oscar, lá está: Whiplash. A única coisa que penso é que necessito ver esse filme. Eu realmente estava com as expectativas extremamente altas.

E com certeza não fui decepcionado.

O solitário Andrew (Miles Teller) é um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música americana como fez Buddy Rich, seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher (JK Simmons), Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos Estados Unidos. Entretanto, a convivência com o abusivo maestro fará Andrew transformar seu sonho em obsessão, fazendo de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos com sua namorada e sua saúde física e mental. (AdoroCinema)

JK Simmons e Milles Teller têm uma química incrível juntos, por mais que os personagens de ambos sejam bem diferentes. Os dois estão muito bons, mas o destaque com certeza é o JK Simmons, como Fletcher, que ganhou o Globo de Ouro esse ano. Ele faz um personagem extremamente autoritário, que exige a mais completa perfeição de seus alunos, que pode parecer a pessoa mais odiável do mundo nos primeiros minutos, mas enquanto o tempo vai passando o espectador conhece mais do personagem e vai construindo aos poucos uma opinião sobre ele. Pra resumir, não tem como amar nem odiar o personagem. Ele é extremamente exigente (o que nos faz nos perguntarmos até que ponto o que ele faz é correto), mas ao mesmo tempo procura que seus alunos atinjam seus objetivos. Já o Milles Teller, como Andrew não é um protagonista muito convencional. Não é muito fácil gostar dele, mas mesmo assim é muito bom lutar pelos seus objetivos junto com ele. Você não gosta muito dele, mas quer que ele vá bem nas apresentações. É estranho, mas juro que faz sentido.

O trabalho do diretor Damien Chazell aqui foi excelente. Ele soube muito bem aproveitar dos aspectos técnicos do filme para retratar a tensão ou o alívio do filme, dependendo da cena. Para as cenas da banda, ou só do Andrew tocando, o diretor usa cortes rápidos, vários takes bem detalhados e curtos, que, quando seguidos, dão uma sensação de rapidez de tirar o fôlego, que está muito bem feita e que acrescenta muito ao filme. Já nas cenas mais lentas, mais calmas, a câmera geralmente está parada, simplesmente mostrando o que deve ser mostrado. Isso ficou incrível.

Uma das coisas mais legais de se ver no filme é, com certeza, as performances musicais que, acredite ou não, todas são reais. Me peguei boquiaberto várias vezes com a perfeição apresentada por parte não só do Milles Teller (que é um baterista desde criança, e diz que aprendeu sozinho), quanto pelos outros músicos do filme. Tocar jazz é muito difícil. Fingir erros, mais ainda. E a obra está repleta de cenas assim, o que é realmente impressionante (vai ver o Terence Fletcher é um alter-ego do diretor...).

Mas, como tudo não são só flores, o elenco mais coadjuvante do filme realmente não tem muita serventia. No caso, falando mais do pai do Andrew e da "namorada" dele. O pai dele tem um papel até bem legal e importante pra construção psicologica do personagem, ele é o único membro da família dele que sobrou após a mãe ter fugido após seu nascimento, mas o ator, Paul Reiser, não oferece nada demais. Mas o problema mesmo aparece na personagem Nicole, namorada de Andrew, interpretada por Melissa Benoist. Não é que ela atua mal, mas a personagem dela podia ser completamente retirada do filme que nada seria perdido. Ela é completamente inútil nesse filme.

Whiplash é perturbador em alguns momentos, mas isso com certeza não é um ponto negativo. Ele não chega a sufocar o espectador, sabendo aonde acabar com a pressão psicológica nos personagens no momento certo. E que tem uma cena final, quase sem falas, que é extremamente satisfatória. Não tem como não ficar de cara com esse final. Pra resumir: gosta de Jazz? Assista Whiplash. Gosta de bateria?Assista Whiplash. Gosta de música? Assista Whiplash. Gosta de... ah, que seja. Assista Whiplash.



 

5 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (2014)




Birdman
Diretor: Alejandro González Iñárritu
119 min

No passado, Riggan Thomson (Michael Keaton) fez muito sucesso interpretando o Birdman, um super-herói que se tornou um ícone cultural. Entretanto, desde que se recusou a estrelar o quarto filme com o personagem sua carreira começou a decair. Em busca da fama perdida e também do reconhecimento como ator, ele decide dirigir, roteirizar e estrelar a adaptação de um texto consagrado para a Broadway. Entretanto, em meio aos ensaios com o elenco formado por Mike Shiner (Edward Norton), Lesley (Naomi Watts) e Laura (Andrea Riseborough), Riggan precisa lidar com seu agente Brandon (Zach Galifianakis) e ainda uma estranha voz que insiste em permanecer em sua mente. (AdoroCinema)

Esse filme é um filme bem peculiar... acho que particular seria uma palavra melhor. A - quase - metalinguagem do filme (ou seja, o filme falando sobre uma produção teatral, que se assemelha muito com o cinema em alguns quesitos) propõe um filme bem diferente. E é realmente isso que nos é apresentado.

O elenco de Birdman me surpreendeu. Michael Keaton está excelente, existem várias cenas na qual só ele está presente que são de cair o queixo. Mas o que mais é satisfatório aqui é que ninguém aparece por acaso, não há talento desperdiçado por parte tanto do elenco principal quanto do coadjuvante. O trabalho do Michael Keaton não é levar o filme inteiro nas costas, mas sim interagir com todos os personagens apresentados, tanto de uma forma mas grupal, quanto individual. Esse é um ponto bem positivo pra obra, todos os personagens tem uma simbologia, um significado bem individual aos olhos de Riggan Thomson o que enriquece a experiência do espectador. E um destaque deve ser dado para a Emma Stone e pro Edward Norton. Os dois têm uma certa "química" que aliviou algumas partes mais pesadas. Mas quando estão em cenas separadas, os dois também dão um show.

Um dos fatores que mais chama a atenção aqui é o fato dele parecer que não possui corte algum. A obra possui takes extremamente longos, o que merece muito destaque. Com certeza foi muito dificil "guiar" esse filme. A câmera também é bem singular, bem minimalista, não apresenta ângulos incríveis ou algo do tipo, porém mostra uma continuidade muito bem feita. Só vendo pra entender...

Com certeza a direção aqui foi uma tarefa árdua para Alejandro González Iñárritu, justamente pelos fatos já citados. Ele já tinha feito um excelente trabalho em "Biutiful" (2010), mas aqui ele está fenomenal. Desculpa Linklater, mas o Oscar de melhor diretor vai para Alejandro González Iñárritu (ou realmente não há justiça alguma nesse mundo).

A trilha sonora é bem interessante, mas chega a ser um pouco maçante. Ela é composta quase que exclusivamente por apenas uma bateria, o que combina em algumas cenas, mas em outras não. A história dá uma explicação para essa trilha sonora logo no início (em um pequeno detalhe, bem rápido até, de uma cena, mas que é hilária), mas que é utilizada de maneira um pouco exagerada.

Birdman faz uma crítica muito pesada sobre "a geração blockbuster" e sobre como, nos dias de hoje, é difícil para alguém que já foi famoso há alguns anos atrás voltar aos "dias de ouro" por puro mérito próprio e talento, e mostra a dificuldade de produção, as dificuldades para lidar com os atores e os bastidores de uma peça. Com um final surpreendente, Birdman é um filme excelente, que pode sair de mãos cheias na cerimônia do Oscar.



Música tema de "Birdman"


9 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor filme"


quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Um Santo Vizinho (2014)

St Vincent
Diretor: Theodore Melfi



"Maggie (Melissa Mcarthy) acaba de se divorciar. Ela e o filho de 12 anos se mudam. Um vizinho, St. Vincent De Van Nuys (Bill Murray), se aproxima deles e se oferece para cuidar do menino. Depois de hesitar, Maggie aceita, pois é enfermeira e faz plantões de madrugada. Uma grande amizade nasce entre o menino e o veterano de guerra, Vincent. Apesar de ele não ser a pessoa mais indicada para cuidar de uma criança, essa amizade faz muito bem ao menino." (AdoroCinema

Guiado pela fórmula infalível da amizade oriunda do contraste, St. Vincente me surpreendeu principalmente por não ser tão previsível em seu enredo. Nada nos é apresentado explicitamente no início, gerando detalhes que necessitam ser observados ao decorrer do filme, que por sua vez não se resume cem porcento na categoria comédia. Embora seja recheado de piadas originais, o longa também possui sua carga dramática (me fez chorar), reservada para o final, após o espectador criar uma relação afetiva com os personagens.

Bill Murray aparece impecável, fazendo o tipo "amavelmente odiado" que normalmente arranca simpatia do público. Naomi Watts, quase irreconhecível com cabelo rosa desbotado, maquiagem de gosto duvidoso e um sotaque estranho (provavelmente eslavo) aparece interpretando uma stripper grávida que seria provavelmente a única amiga de Vincent, antes da família de Oliver se mudar para a casa ao lado. Com a chegada do garoto e sua mãe, Vincent tem sua tranquilidade instantaneamente perturbada, mas não nega ajuda ao garoto quando esse se encontra trancado para fora de casa após o primeiro dia de aula.



A partir de então, o enredo se desloca para um duplo ponto de vista, entre Oliver e Vincent, enquanto o velho arrasta o garoto para seus "afazeres" cotidianos, incluindo apostas num hipódromo e bares frequentados tarde da noite. Depois de um certo ponto de exposição da vida errônea do vizinho, a trama se volta para o lado mais humano de Vincent, visto que ele visita sua esposa no asilo toda semana, mesmo que ela não se lembre dele, e grande parte do dinheiro ganhado na aposta foi para uma poupança para seu neto (o que na minha opinião foi uma informação insatisfatória, pois em nenhum momento nos é apresentada a família de Vincent).


Com uma trilha sonora no mínimo empolgante, St. Vincent é aquele filme que qualquer um torce para não terminar (falando nisso, existe uma mini cena durante os créditos, com Bill Murray cantando Bob Dylan!), não me atrevo a dizer que seja um blockbuster (se é que tem como classificar algum filme completamente), mas talvez eu me atreva sim a dizer que o longa agradaria desde os leigos até os mais chatinhos.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Invencível (2014)

Unbroken
Diretor: Angelina Jolie
137 min


O drama retrata a história real do atleta olímpico Louis Zamperini (Jack O'Connell), que sofre um acidente de avião, e cai em pleno mar. Ele luta durante 47 dias para reencontrar a terra firme, e quando consegue, é capturado pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. (AdoroCinema)

Angelina Jolie... a senhora me fez chorar em público. Muito obrigado.

A cinebiografia de Louis Zamperini foi retratada de uma forma muito diferente aqui. Ao invés de "elevar o nível" de Louis, de dar ao "personagem" uma superioridade em relação aos demais, a diretora escolheu simplesmente focar em um personagem para demonstrar uma situação vivida por uma gama enorme de pessoas. Claro que o filme aborda várias particularidades da vida de Louis, coisas que aconteceram apenas com ele, mas também deixa claro que os outros soldados do exercito estadounidense também tiveram seus momentos marcantes e traumáticos.

A fotografia do filme é brilhante. Mesmo com um cenário não muito agradável, Jolie conseguiu
enquadramentos perfeitos e cenas lindíssimas, contando bastante com ambientes externos e beleza natural. Os ambientes sempre claros caíram muito bem no filme, e reforçaram bem a ideia de persistência do protagonista. Só vendo pra entender o ótimo trabalho que foi feito aqui. Uma estatueta seria justíssima.

Jack O'Connell faz uma interpretação boa como Louis Zamperini, mas nada demais é apresentado. Ele cumpre sua tarefa com sucesso, mas não apresenta mais do que o necessário. No elenco de apoio, destaca-se Miyavi, um cantor japonês que aqui interpreta Mutsushiro Watanab, um personagem odiável do início ao fim, que está muito bem do início ao fim, tanto pela transformação física, quanto pela presença do ator. Um ator japonês de presença realmente seria muito importante para o filme, e isso o enriqueceu de uma maneira bem particular.

A trilha sonora "à lá" John Williams do filme é muito boa, conseguiu acompanhar bem o filme, dando o tom certo para as cenas, sem exagerar muito, o que é sempre bom.

Invencível nos apresentou grandiosamente a brilhante história de Louis Zamperini, mas uma das decisões mais importantes da vida do "personagem" está apenas naquelas letrinhas finais do filme que toda cinebiografia tem, que conta o que aconteceu com os "personagens"  tempos depois do filme. Confesso que não sei se isso é um ponto positivo ou negativo. A última cena do filme (com trilha sonora dos britânicos do Coldplay), que conta com o real Louis Zamperini, é extremamente simples e completamente emocionante, que me fez começar a rir e chorar ao mesmo tempo, de uma forma bem... honesta, digamos assim. E olha que, sinceramente, não sou a pessoa mais chorona do mundo não...

Fica aí a dica de um filme incrível, sensível e indispensável.



"I'd made it this far and refused to give up because all my life I had always finished the race"
Louis Zamperini


3 indicações ao Oscar 2015


O Abutre (2014)

Nightcrawler
Diretor: Dan Gilroy
117 min



Enfrentando dificuldades para conseguir um emprego formal, o jovem Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. A fórmula é correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e vender a história para veículos interessados. (AdoroCinema)

O Abutre é um filme que te pega de surpresa. O começo do filme é bem genérico, temos o personagem Louis procurando por emprego. E já somos introduzidos para a essência do personagem. E e impossível ter algum tipo de empatia pelo protagonista do filme, o que é feito propositalmente, logo, não é um aspecto negativo. Louis é um personagem que não tenta esconder os "jeitinhos". Não pretendo dizer muito sobre esse personagem, pois o estudo de personagem do filme é muito bom, mas é como se o filme avisasse ao espectador aonde ele está se metendo. A continuidade do filme é por conta do espectador.

O filme é uma sucessão de eventos chocantes que o personagem Louis, junto com seu parceiro Rick (Riz Ahmed) fazem cobertura para a venda em jornais locais. Isso teria falhado (assim como algo parecido falhou grandiosamente em Bling Ring) se o filme não crescesse nesse sentido. Cada caso que a dupla se envolve é bem diferente do outro e cada um afeta de uma maneira diferente a vida e a maneira de lidar com as coisas do protagonista.

Louis Bloom foi interpretado majestosamente por Jake Gyllenhaal. De todos os filmes que vi com o ator, este se destaca da uma forma grandiosa. Como já foi dito, o estudo de personagem aqui é incrível, graças a direção comprometida de Dan Gilroy, que pecou em alguns outros aspectos (como os listados no parágrafo seguinte), mas acertou em cheio quando aprofundou desse tanto o personagem de Jake Gyllenhaal, que é o foco do filme em 100% das cenas.

O filme em si é um filme bom, com uma temática pouco abordada, mas em algumas cenas o filme apela pra alguns recursos bem "blockbusters", que são necessários, sim, para alguma cenas, mas creio que aqui foram usados em demasia. Até me espanta o filme ter concorrido ao Globo de Ouro e estar previsto em várias categorias no Oscar, incluindo melhor filme. Vamos esperar pra ver.
No fim das contas o que fica é a indignação com o personagem e um filme interessante de ser visto, mas
que dá uma leve impressão, em algumas cenas, de ser um filme genérico.Um filme bom, que pode até ser indicado à alguns prêmios, mas provavelmente sairá de mãos vazias...


1 indicação ao Oscar 2015

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A Teoria de Tudo (2014)

The Theory of Everything
Diretor: James Marsh
123 min


É difícil falar sobre biografias (ainda mais depois da polêmica que rolou com Foxcatcher, filme que já foi criticado aqui) principalmente de um dos nomes mais importantes da ciência mundial, como Stephen Hawking. E com certeza foi um desafio muito grande para o diretor James Marsh retratar a vida de Hawking. Um detalhe se quer, pode mudar todo o foco do filme e a aparência da pessoa representada para o público. Porém, foi um trabalho feito com tanto cuidado, que se tornou uma obra de arte belíssima.

Baseado na biografia de Stephen Hawking, o filme mostra como o jovem astrofísico (Eddie Redmayne) fez descobertas importantes sobre o tempo, além de retratar o seu romance com a aluna de Cambridge Jane Wide (Felicity Jones) e a descoberta de uma doença motora degenerativa,  quando ele tinha apenas 21 anos. (AdoroCinema)

Numa cinebiografia de um dos cientistas mais importantes do mundo, é implícito que a ciência deveria estar presente numa maioria das cenas do filme, o que de fato acontece. Mas, graças à um ótimo roteiro, as tais cenas são autoexplicativas. Convenhamos, o cara é um dos maiores físicos de todos os tempos. Seria muito mais fácil ao roteirista, Anthony McCarten, simplesmente jogar milhões de teorias sem explica-las, porém não existe nenhuma ponta solta sobre nenhum fato científico mencionado por Hawking ou algum dos seus professores ou companheiros de classe. No caso deste filme então, a compreensão dos termos e teorias científicas é extremamente necessária para o maior aproveito da história. A ciência no filme é usada, não somente, como "arma principal", ou até mesmo uma válvula de escape de Stephen, mas como uma maneira de incrementar e de detalhar mais os fatos vividos pelos personagens, de uma maneira bem singular. É curioso ver como suas ideias filosóficas e científicas vão mudando drasticamente ao longo do tempo.

Não vou botar imagens da atuação de Eddie Redmayne com o estágio mais avançado da doença e também não sugiro nenhuma pesquisa. O ator rouba todas as cenas do filme de uma forma gradativa. Com certeza a maquiagem do personagem contribuiu para a atuação do ator, mas Eddie Redmayne com certeza enfrentou um duro trabalho ao interpretar Stephen Hawking na telona., mas um trabalho que resultou num montante impressionante. Toda a dificuldade que surgiu na vida de Hawking foi bem retratada, mas nada que apelasse muito ao sensitivo. É um trabalho dosado, que não exagera e faz tudo muito bem. Uma estatueta do Oscar é mais do que merecida...
 
O elenco de apoio também está muito bom, mas nada que seja digno de premiações, o que contradiz, porém, com as listas de previsões do Oscar e das listas oficiais de concorrentes ao Globo de Ouro e do SAG Awards... vamos ver quem vai sair com o prêmio na mão.

O filme construiu a Cambridge dos anos 60 de uma maneira incrível e natural, usando um vocabulário mais formal e se adequando à vestimenta e arquitetura, e fazendo referências à cultura POP da época. A obra deixa o espectador mergulhado dentro da época em que o filme se passa, o que aumenta consideravelmente a experiência do filme. Um Oscar de Direção de Arte seria justo.

A Teoria de Tudo é um filme que mesmo tendo tudo pra ser um filme depressivo ou angustiante, não deixa as restrições da doença sobreporem a busca incessante de Hawking pelo saber. Mostra muito bem que Stephen Hawking é uma pessoa feliz, que dribla as limitações de uma doença para aproveitar o que a vida ainda lhe oferece. Filmaço.

5 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O Lobo Atrás da Porta (2014)

O Lobo Atrás da Porta
Diretor:  Fernando Coimbra
100 min



Sinopse: O desaparecimento de uma criança faz com que seus pais, Bernardo (Milhem Cortaz) e Sylvia (Fabiula Nascimento), vão até uma delegacia. O caso fica a cargo do delegado (Juliano Cazarré), que resolve interrogá-los separadamente. Logo descobre que Bernardo mantinha uma amante, Rosa (Leandra Leal), que é levada à delegacia para averiguações. A partir de depoimentos do trio, o delegado descobre uma rede de mentiras, amor, vingança e ciúmes envolvendo o trio. (AdoroCinema)

Anteontem, dia 3 de janeiro, li que a ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considerou Boyhood como o melhor filme do ano, o que foi justíssimo. Além disso, consideraram o filme O Lobo Atrás da Porta como melhor filme de 2014.

E eles não podiam estar mais errados.

A primeira hora do filme é bem envolvente. Temos uma criança desaparecida e queremos saber aonde ela está. Temos um casal preocupado com sua filha e uma suspeita. Este tipo de trama sempre dá certo, é sempre muito interessante, mesmo sendo um pouco clichê. O que dará o mérito do filme é como ele irá desenvolver tal situação, e é aí que nasce o problema.

Esse filme é o pior exemplo de edição que eu já vi. Repetindo, geralmente as pessoas não falam sobre a edição de um filme nas suas críticas, apesar de ser um fator muito importante para análise do mesmo. É a edição que vai ditar se o filme é arrastado ou agitado, e em algumas vezes, coeso ou não. Mas nesse filme o problema é outro. Aqui temos um problema sério: as cenas as cenas boas nos momentos errados. Isso é uma combinação de um roteiro ruim com uma edição ruim. É papel do editor interferir nisso, e parece que aqui ele não o fez. E o roteiro também errou feio ao fazer um filme bastante previsível (bastante mesmo!). Me bastou assistir ao trailer para desvendar a conclusão do filme.
Se tem algo que deve ser relevado em relação à obra, são as atuações. O elenco todo está muito competente. O trio principal, composto de Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento e Leandra Leal, está muito bem, mas quem rouba as cenas aqui é Juliano Cazarré, que interpreta o delegado do caso, mas que foi mal aproveitado. O som do filme também é bem interessante, que mescla muito bem os sons do ambiente da cena com os diálogos.

Não tem como, minha gente. O filme é ruim mesmo. O roteiro é ruim, a trilha sonora não se aplica, a edição é errada... pelo menos as atuações são boas....

domingo, 4 de janeiro de 2015

Garota Exemplar (2014)

Gone Girl
Diretor: David Fincher
149 min


Eu com certeza sou uma pessoa meio suspeita pra falar sobre Gone Girl. Já era fã do livro antes de assistir ao filme, e David Fincher é um dos meus diretos favoritos. Desculpem-me, mas não tem como ser imparcial aqui.

Vocês foram avisados. Agora vamos lá.


Amy Dunne (Rosamund Pike) desaparece no dia do seu aniversário de casamento, deixando o marido Nick (Ben Affleck) em apuros. Ele começa a agir descontroladamente, abusando das mentiras, e se torna o suspeito número um da polícia. Com o apoio da sua irmã gêmea, Margo (Carrie Coon), Nick tenta provar a sua inocência e, ao mesmo tempo, procura descobrir o que aconteceu com Amy. (AdoroCinema)

O filme segue como uma investigação policial comum até a metade do filme. Daí pra frente, o filme muda radicalmente. Nick, é um dos maiores suspeitos do desaparecimento de sua mulher, Amy, o que dá uma carga emocional pesada ao personagem e que é cada vez mais intensa. Eu tinha muito medo da atuação do Ben Affleck nesse filme, não é um ator que eu aprecie muito. Mas pela primeira vez posso dizer que ele realizou um bom trabalho aqui. Ele conseguiu interpretar (e muito bem) toda a carga emocional do personagem, o que foi, com certeza, uma tarefa muito difícil. Mas quem rouba o filme aqui é a Rosamund Pike interpretando a "gone girl" Amy Dunne. Como disse, o  filme muda bastante depois da metade, e é aí que Pike dá seu show. Não vou comentar muito sobre isso, pois eu acabaria falando demais, mas se tem algo que eu possa dizer é que um Oscar cairia bem...

A direção do David Fincher está, mais uma vez, brilhante. O filme tem um tom escuro, neblinoso, com muitas cenas internas e durante a noite e uma trilha sonora sombria. Todos os aspectos técnicos do filme funcionam para reforçar a pressão psicológica vivida pelo personagem principal, Nick. David Fincher estava muito seguro e livre aqui. Conseguiu dar o tom certo ao filme e abusar dos recursos oferecidos pelo cinema para incrementar a história apresentada pelo filme.

Em termos de adaptação, é um filme excelente. Houveram rumores antes do lançamento do filme, de que o mesmo teria um final diferente do livro, o que desanimou muitos dos fãs da obra literária. Porém, foram só rumores. Particularmente, eu queria bastante que mudassem o final do filme. É um final em aberto, que pode não agradar a todos, mas que não estraga a obra por completo.

Gone Girl é um filme incrível, com bastante identidade na direção de David Fincher, e com um clímax chocante, que te faz arregalar os olhos e ficar sedento para acompanhar o resto da trama. Um dos melhores filmes de 2014.

Atualização: Tive que registrar minha indignação aqui: Gone Girl só recebeu uma indicação ao Oscar (melhor atriz para Rosemund Pike). O maior injustiçado da vez, com certeza. Cadê melhor filme (sendo que só temos oito indicados este ano, logo duas vagas estão sobrando)? Cadê melhor roteiro adaptado? Melhor diretor? Essa academia...

1 indicação ao Oscar 2015

Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo (2014)

Foxcatcher
Diretor: Bennett Miller
129 min
 

Vamos começar com a sinopse: "Campeão olímpico de luta greco-romana, Mark Schultz (Channing Tatum) sempre treinou com seu irmão mais velho, David (Mark Ruffalo), que é também uma lenda no esporte. Até que, um dia, recebe um convite para visitar o milionário John du Pont (Steve Carell) em sua mansão. Apaixonado pelo esporte, du Pont oferece a Mark que entre em sua própria equipe, a Foxcatcher, onde teria todas as condições necessárias para se aprimorar. Atraído pelo salário e as condições de vida oferecidas, Mark aceita a proposta e, assim, se muda para uma casa na propriedade do milionário. Aos poucos eles se tornam amigos, mas a difícil personalidade de du Pont faz com que Mark acabe seguindo uma trilha perigosa para um atleta." (adorocinema). Não vou entrar muito na história do filme, pois cada detalhe pode fazer a diferença na compreensão da história.

O segredo desse filme é na combinação excelente de atuação e roteiro. Este último está por conta de E. Max Frye e Dan Futterman, que repetiram na "fórmula" usada em Capote (outro filmaço!) que, obviamente, deu certo. Os roteirista deixaram uma boa parte da história nas entrelinhas do texto. Não é tudo que acontece, nem toda a carga emocional dos personagens que é mostrada nas cenas de uma maneira mais literal, o que enriquece o filme de metáforas e prende o espectador a montar o quebra-cabeça emocional de cada personagem (deu pra entender? Mais ou menos?).

As interpretações do trio principal são divinas. Mark Rufallo e Steve Carrell estão irreconhecíveis. E aqui, Carrell provou que é um excelente ator. Um Oscar de Coadjuvante cairia muito bem. E Channing Tatum mostrou pra todo mundo que é um ator sério, que não é mais o "querido John" e que está pronto pra começar sua carreira em filmes mais sérios.

Foxcatcher é um filme sobre luta, sobre esporte. Mas não deixe isso te levar a ver o filme: a luta aqui é bem explorada no quesito emocional e individual. Cada personagem lida da luta de uma maneira completamente diferente (e eis mais um bom exemplo de um ótimo roteiro. A gente não percebe logo de cara a particularidade de cada um, mas somos apresentados a cada personagem de uma forma gradativa, até conhecermos bem cada um).
A edição desse filme também merece reconhecimento. Ela apresenta somente o que é necessário para a história do filme, e por meio dessas cenas cabe ao espectador construir o conceito de cada personagem do trio principal. Nada do filme está em excesso por causa do incrível trabalho de Jay Cassidy, Stuart Levy e Connor O'Neill (a gente geralmente não da valor à edição, não é? Nesse filme um bom trabalho com tal serviço foi inevitável. Tente prestar atenção neste detalhe, que merece seu reconhecimento).
Foxcacther é um filme que te prende do início ao fim, com um desfecho impressionante que me deixou deveras intrigado. Agora só resta esperar pra ver quantas indicações ou (quem sabe) estatuetas esse filme vai receber...


3 indicações ao Oscar 2015

Boyhood - Da Infância à Juventude (2014)

Boyhood
Diretor: Richard Linklater
165 min



Acho que todo mundo já sabe da "polêmica" desse filme. Sim, é aquele que demorou 12 anos pra ser feito. E, bem... vou ter que concordar com o que tão dizendo por aí. Boyhood é o melhor filme de 2014. Fazia tempo que não via um filme tão bom.

O filme conta a vida de um garoto, Mason, dos seis aos 18 anos. A vida nunca foi tão bem retratada como em Boyhood. Uma vida natural, até mesmo ordinária, que nos faz apegar aos personagens de uma maneira bem partícular. O trabalho aqui foi tão natural que por alguns momentos pensei estar assistindo videos antigos de uma família amiga. É tudo muito natural nesse filme e tudo flui do melhor jeito possível. 

Muitas pessoas estão reclamando de um quesito bem particular desse filme. Uma grande maioria de pessoas que desaprovam o filme usam o argumento de que o filme é vazio, que não tem uma história pra contar. Porém, o argumento é tão inválido que chega a ser ridículo. Usar esse argumento é o mesmo que dizer que a própria pessoa não tem uma história. O filme relata acontecimentos marcantes na vida de Mason que são compartilhados com a maioria esmagadora da população. O (a) primeiro(a) namorado(a), o primeiro emprego, as dúvidas que surgem sobre o mundo, discussões e frustrações com os pais... todo mundo passa por isso. E tem horas que é necessário ver que "você não é o único" E é isso que Boyhood faz. Ele mostra que todo mundo tem seus problemas, mas que eles edificam uma pessoa como ser humano. Deu pra entender?

A estrutura do filme é incrível. O filme não apela para técnicas batidas, mas marca o tempo do filme com elementos usados em cenário, aparelhos tecnológicos, celulares, etc, criando uma linha do tempo na cabeça do espectador. 

Não sei nem dizer quem está melhor aqui, em termos de atuação. O fato do espectador ver os atores envelhecendo com certeza ajudou da experiência do filme, que extrai o máximo de seus atores, conseguindo um resultado digno de Oscars. É muito legal acompanhar uma pessoa desde sua infância até o início de sua vida adulta, o que seria um fiasco se não fosse a ótima escolha de elenco. Ethan Hawke merece destaque entre as atuações. Ele faz o pai de Mason, que não aparece em muitas cenas, mas da um show de atuação, com ótimos e fluídos diálogos
É um filme que podemos ter certeza que estará na lista dos indicados ao Oscar do ano de 2014. Indispensável.

(Ps: a trilha sonora é incrível e tocou minha música favorita do Arcade Fire. Yay \o/)


 You don't want the bumpers, life doesn't give you bumpers.


6 indicações ao Oscar 2015, incluindo "Melhor Filme"

Jogos Vorazes: A Esperança (Parte 1) (2014)

The Hunger Games: Mockingjay (Part 1)
Diretor: Francis Lawrence
123 min


*Avisando que terão spoilers dos filmes anteriores da trilogia*

Não vou considerar aqui a minha opinião de leitor da saga, somente de espectador dos outros dois filmes da saga e, obviamente, desse último.

Então vamos lá.

Depois do final "mindblowing" de "Em Chamas", os espectadores estão sedentos por respostas de perguntas criadas no filme. "O que aconteceu no Distrito 12? Cadê o Peeta? Quais serão as providências tomadas pela Capital após a atitude rebeldes dos aliados da arena?" São perguntas bem recorrentes a qualquer um que assistiu ao segundo filme. A primeira parte de Mockingjay responde a todas essas perguntas, sem gastar muito tempo, o que é um ponto positivo. "Não satisfeito", ele cria várias outras perguntas, o que faz o espectador nem piscar o olho durante toda a experiência de assistir o filme. A revolução começada no final do filme passado avança em níveis irrefreáveis, e perde o controle. Logo, a resposta da Capital às ações dos rebeldes do Distrito 13 também se torna cada vez mais agressivas. E nisso se resume o filme, uma série de reações em cadeia da Capital e do Distrito 13, que pode, para alguns, se tornar meio enfadonha, mas que não me incomodou.

A maioria das atrações aqui estão ótimas. Jennifer Lawrence nos surpreendeu mais uma vez, com uma atuação mais profunda do que nos outros dois filmes, e até mesmo o Josh Hutscherson, que estava bem fraco nos dois outros filmes, mostrou um salto enorme ao longo do filme. E não tem como não falar do
Phillip Symour Hoffman, que deu um show de atuação em seu último trabalho. O personagem que teria tudo pra ser hiper caricato, foi interpretado de uma maneira minimalista e bem dosada. É importantíssimo dar destaque à esse ator. O problema todo se concentra, principalmente, em dois atores: Liam Hermsworth (que me recuso a comentar o motivo) e Julianne Moore, infelizmente, que traz uma interpretação fria e restrita a olhares e expressões faciais recicladas durante o filme.

E é impossível falar de Mockingjay - Part 1 sem comentar sobre o final. Calma, nada de spoiler, mas há um "puxão de orelha" a fazer no diretor Francis Lawrence, que estava indo até bem. Quando o filme atinge seu Clímax, pelo fato de se tratar da primeira parte de um filme, de uma única história, ao invés de termos o corte perfeito e sermos dirigidos para o fim do filme, temos uma extensão de mais uns cinco ou seis minutos, que explica o clímax do filme. Ou seja, completamente desnecessário. Pode parecer irrelevante, mas acredite, é extremamente frustrante. O filme não dá nenhum gancho para a parte dois do filme. E isso é problema, ao meu ver.



Mockingjay - Part 1 é um filme que retrata muito bem o lado político de uma revolução, com poucas cenas de ação frenética, mas que realmente não fazem tanta falta assim. Um bom filme (nada muito comparável a Em Chamas, que, até agora, é o melhor filme da saga), que peca em alguns aspectos, mas nos deixa ansiosos para o final épico da saga revolucionária de Katniss Everdeen.